Alfabetização Audiovisual Porto Alegre

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Em sua segunda edição, o curso Cinema Negro na Escola tem o objetivo de oferecer uma programação de curtas-metragens nacionais que tenham a temática negra ou tenham sido feitos por pessoas negras. Além destes pilares, houve uma busca por filmes que pudessem ser interessantes junto à escola, levando em consideração a classificação etária das obras. E para além do recorte de idade, compreende-se que em um processo didático, ou pedagógico em si, existe uma costura da linguagem audiovisual que as idades precisam também acompanhar. Então, por exemplo, é difícil pensarmos em um filme muito longo para as séries iniciais. A ideia foi conjugar uma perspectiva de filmes mais curtos, por conta da idade, da retenção de atenção. 

Porém, pode-se até mesmo discutir esta perspectiva inicial. No módulo 1, feito para alunos de 3 a 6 anos, há o filme de 22 minutos “Ewé de Òsányìn: O Segredo das Folhas”, que é extremamente sensorial. Não há uma perspectiva de uma história sendo contada, que a criança pode ou não acompanhar. E apesar de uma criança de 3 anos ser diferente de uma de 6 anos, existe uma série de dinâmicas que podem ser apropriadas a partir desse filme. Então, a gente flexibiliza e consegue entender assim: esse filme de 22min é longo pra essa idade mas ele tem diversas possibilidades. 

Houve um cuidado de entender a conjugação com as idades junto às possibilidades para esse professor diante dos filmes. O processo do cinema com a educação é um caminho de vastas possibilidades. E isso cabe ao olhar de quem vê. Logo, o professor vai ter análises e interpretações diferentes das minhas.

Um dos filmes que foi inicialmente pensado para o Módulo 2, com idades dos 7 aos 11 anos, acabou se tornando transversal na programação, sendo oferecido para todas as idades. “Lápis de Cor” é um é um documentário que traz crianças desenhando a si mesmas, falando sobre suas imagens, entendendo-as, fazendo uma discussão racial e sobre pertencimento social. Ao final do processo de escolha das obras, o grupo interdisciplinar considerou que o filme poderia ser exibido para todas as idades.

Outra prioridade foi buscar uma variedade de realizadores, muitos deles consagrados, vencedores de festivais. Mas também há curtas feitos em escola, como o filme “Mind the Gap”, que venceu uma categoria do Festival Visões Periféricas. Um filme feito por estudantes em que fica evidente a questão da produção e suas questões técnicas, que são patentes. Porém, é possível observar toda a força destes estudantes apertando o REC da câmera. Desta forma, é possível oferecer elementos para que estes alunos e professores também se reconheçam na posição de poder contar suas histórias. O que temos hoje com o cinema digital e com o aumento do acesso aos smartphones, é a possibilidade vasta de descentralizar o “quem” fala.

Outra preocupação foi trazer diferentes tipos de produção, para também entender que a escola pode se pensar nesse lugar de produtor audiovisual, de produção de mensagens e recursos audiovisuais para a vida. Quando pensamos que as escolhas no campo da comunicação estão cada vez mais voltadas para imagem, e nós ficamos fora do jogo de entender o que isso significa, estamos perdendo a possibilidade de vida. Por isso, é preciso ver imagens, é preciso educar o olhar para a imagem, é preciso se alfabetizar para essa imagem e para os sons que essas imagens carregam. É preciso também colocar-se de uma forma não passiva diante das regras que o mundo está impondo através da imagem, enxergando o audiovisual para além da sua condição de entretenimento.

Daniela Giovanna
Curadora do Cinema Negro na Escola 2° Ediçãoi

Em Porto Alegre, agosto de 2022

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