LÁPIS DE COR, de Larissa Santos | BA | 2014 | 13’|
“O documentário aborda a representação racial no universo infantil e a maneira como o padrão de beleza eurocêntrico afeta a auto-imagem e auto-estima de crianças negras, revelando a ação silenciosa do racismo. Lápis de cor faz referência a uma cor de lápis, conhecida como “cor de pele”, que, na verdade, é de tonalidade bege. É essa cor que as crianças utilizam para representar a si mesmas e as pessoas do seu convívio, compondo, nos desenhos, um fenótipo de pessoas brancas – olhos claros, cabelos louros e pele bege – mesmo quando são negras as pessoas representadas.”
Direção e Argumento: Larissa Santos Autor dos textos:Lande Onawale Produção Executiva: Ailton Pinheiro Direção de Fotografia: Carina Designer visual: Heloísa França Animação: Aline Brune Montagem/Edição: Emerson Dias
Referências
Curta Metragem: Lápis de Cor
RESUMO
O documentário busca abordar a representação racial no universo infantil e a maneira como um determinado padrão de beleza afeta a auto-imagem e auto-estima de crianças negras. Para tratar desta questão, a realizadora proporá a um grupo de 05 crianças, formado por primas e irmãs, uma dinâmica de produção de desenhos. Através dos desenhos nos quais se auto- representarão, as crianças revelarão o que imaginam ser e a maneira como se vêem.
O título do filme, “Lápis de cor”, faz referência a uma cor de lápis, conhecida como “cor de pele”, que, na verdade, é de tonalidade bege. É essa cor que as crianças utilizam para representar a si mesmas e as pessoas do seu convívio, compondo, nos desenhos, um fenótipo de pessoas brancas – olhos claros, cabelos louros e pele bege – mesmo quando são negras as pessoas a serem representadas.
CARTA DE HELEN CAROLINE, MINHA IRMÃ MAIS NOVA COM 09 ANOS
Em 2013, no período de férias do curso de Cinema, viajo para Salvador/BA para visitar a minha família, e chegando lá me deparo com essa carta escrita por minha irmã mais nova. Ao ler as palavras, leia-se : “Mãe, Eduarda disse que sou perua e babuina e fica me xingando e disse moro na favela e disse que tenho um cabelo pixaim” . Fiquei indignada com essa carta, que relata o racismo sofrido no ambiente escolar, porém a garota não só estudava na mesma escola que minha irmã, ela morava no mesmo bairro que nós, a diferença era a região do bairro. Pensei em diversas coisas, inclusive ir conversar com os familiares da criança, porém a minha mãe não permitiu essa ação. Fiquei impactada de uma forma que precisava verbalizar sobre essa situação e trago ela para o Lápis de Cor.
DESENHO DE NOSSA MÃE
No período dos dias das mães, Helen Caroline, minha irmã mais nova, desenhou nossa mãe, sendo uma representação uma mulher com cabelo loiro, olhos verdes e pele bege. Quando vi o desenho fiquei desconcertada e chamei minha mãe para conversar, que não era coerente aquele desenho, e que precisávamos conversar com minhas irmãs sobre a questão racial. Minha mãe reduziu o desenho apenas um desenho, e aquilo me incomodou no período, mas por outro lado também me questionei se não estava levando tão sério esse desenho. Mas guardei esse sentimento, o desenho e a carta, e assim o Lápis de Cor nasce, desse incômodo e reflexão sobre como as crianças estavam sendo vistas e como estavam vendo, e por outro lado desejava externalizar sobre a situação de racismo na escola que ocorreu com Helen com a consciência que não era um fato isolado .
DOCUMENTÁRIO OLHOS AZUIS (1996), DE JANE ELLIOTT
Um documentário de 1996 que possui uma série de dinâmicas mediadas pela professora e socióloga Jane Elliott as quais colocam as pessoas para refletir sobre a discriminação racial. Desta forma, este filme é a principal referência para o Lápis de Cor, pelo debate, mas principalmente o dispositivo documental da utilização de dinâmica de grupo para refletir o tema.
Link do filme : https://www.youtube.com/watch?v=In55v3NWHv4
DOCUMENTÁRIO DIÁRIO DE UMA BUSCA (2010), DE FLÁVIA CASTRO
O filme proposto tem como referência alguns documentários contemporâneos, que partem de uma experiência familiar para alcançar uma questão coletiva, atribuindo ao íntimo uma dimensão política.
Entrevista da diretora
Trailer
Sinopse
Documentário no qual Flávia Castro, a diretora, conta a trajetória de seu pai, Celso Afonso Gay de Castro (1943 – 1984), uma vida marcada pela militância política e por sucessivos exílios. A diretora reconstrói as memórias afetiva e familiar de sua infância passando por países como Brasil, Chile, Argentina, Venezuela e França, e tenta desvendar os mistérios da prematura morte de Celso.
POESIA POUCA MELANINA, DE GIOVANE SOBREVIVENTE
É pouca melanina
É pouca melanina
O saci sem perna
O Adão sem costela
A tia Anastácia agora é Tia
O sabugo de milho mais inteligente que o ser humano preto da família
É pouca melanina
É pouca melanina
Jesus Cristo no Egito
Sol de quarenta graus
Cabelo alisado, nariz afilado
Ainda tem gente que acredita
Tia Anastácia está revoltada
Ela faz os bolinhos e Dona Benta recebe a medalha
Farinha de trigo tem que ser Tia Anastácia
CORES.
Uma referência fundamental foi as cores, observar como as crianças se relacionam e como ensinamos as cores por associação, azul é a cor do céu, o amarelo é quente como sol e as nuvens são brancas igual o algodão … ” Eu gostaria de ser artista para colori o mundo.”, ouço em uma das entrevistas das crianças. Mas e as pessoas que cores são? ” Cor de pele”. Cor de pele é a cor de todas as pessoas ? Que pessoas ? É interessante perceber o quanto o argumento das crianças utilizam argumentos assim para negarem a si mesmas, desta forma, Landê Onawalê nos trouxe a poesia contida no Lápis de Cor para criar associação para as caracteristicas negras.
OS POR QUÊS
A palavra que mais define a infância é o “Por quê” , desta forma, narração , os diálogos com as crianças é conduzida por ela.
MÚSICA 8 ANOS, DE ADRIANA CALCANHOTO
Link da música : https://www.youtube.com/watch?v=lw-1-oWhfT0
Por que você é flamengo
E meu pai botafogo?
O que significa
“impávido colosso”?
Por que os ossos doem
Enquanto a gente dorme?
Por que os dentes caem?
Por onde os filhos saem?
Por que os dedos murcham
Quando estou no banho?
Por que as ruas enchem
Quando está chovendo?
Quanto é mil trilhões
Vezes infinito?
Quem é Jesus Cristo?
Onde estão meus primos?
Well, well, well
Gabriel…
Well, Well, Well, Well…
Por que o fogo queima?
Por que a lua é branca?
Por que a terra roda?
Por que deitar agora?
Por que as cobras matam?
Por que o vidro embaça?
Por que você se pinta?
Por que o tempo passa?
Por que que a gente espirra?
Por que as unhas crescem?
Por que o sangue corre?
Por que que a gente morre?
Do que é feita a nuvem?
Do que é feita a neve?
Como é que se escreve
Re…vèi…llon
Well, Well, Well
Gabriel…(4x)